O Bitcoin registrou queda de aproximadamente 4% nas últimas 24 horas, negociando próximo a US$ 87 mil (R$ 469 mil), estendendo uma sequência de perdas de quatro dias consecutivos. A desvalorização reflete pressões macroeconômicas globais, incertezas sobre política monetária e saídas recordes de fundos de investimento em criptomoedas.
Os fundos de investimento em Bitcoin (ETFs) registraram saídas de US$ 357,6 milhões nas últimas 24 horas, a maior desde 20 de novembro, lideradas pela gestora Grayscale. Este movimento representa uma fuga de capitais significativa em um contexto de incerteza econômica global.
A queda acumulada do Bitcoin desde seu pico em outubro chega a quase 30%, com o ativo desvalorizando 6,34% no acumulado do ano. Analistas apontam que as médias móveis de curto prazo — 10 dias em US$ 89.215 e 20 dias em US$ 90.317 — indicam pouca confiança altista no mercado.
A divulgação de dados do mercado de trabalho americano influenciou significativamente o movimento do Bitcoin. Os EUA criaram 64 mil empregos em novembro, acima das expectativas, enquanto a taxa de desemprego permaneceu em 4,6%.
Embora os dados tenham gerado alívio pontual e tentativa de recuperação para US$ 90 mil, o mercado permanece cauteloso. Analistas alertam para risco de queda adicional para US$ 84-85 mil, ou até US$ 74 mil em cenário mais pessimista.
A pressão sobre o Bitcoin não é isolada. Os mercados financeiros globais enfrentam alta volatilidade devido a juros elevados, incertezas sobre cortes de taxas e tensões geopolíticas.
No Brasil, o Banco Central manteve a taxa Selic em 15% — o maior nível desde 2006 — encarecendo o crédito e reduzindo o consumo. A bolsa brasileira caiu 2,42% em sessão recente, enquanto o dólar comercial atingiu R$ 5,462, alta de 0,73% no dia.
Nos EUA, a criação de 64 mil empregos acima do esperado diminui as chances de corte de juros pelo Federal Reserve, incentivando fuga de capitais de mercados emergentes para ativos de menor risco.
O dólar sobe 2,38% em dezembro, apesar de queda de 11,62% no ano. A valorização da moeda americana é pressionada por remessas de lucros de multinacionais e pela busca por ativos denominados em dólar em contexto de incerteza.
Este movimento afeta diretamente economias emergentes como Brasil, México e Argentina, elevando preços de alimentos importados e impactando o varejo local.
As medidas tarifárias anunciadas pela administração Trump geraram incerteza nos mercados, mas também provocaram reconfiguração das cadeias de suprimento globais. O Brasil redirecionou exportações para China e Ásia, buscando compensar pressões comerciais.
Analistas apontam que a competição estratégica entre EUA e China por tecnologias críticas — chips, inteligência artificial e terras raras — está redesenhando o comércio global e criando novas vulnerabilidades econômicas.
A nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, anunciada em dezembro de 2025, enfatiza relações bilaterais sobre multilateralismo, reindustrialização e proteção de recursos estratégicos. Esta mudança de doutrina sinaliza foco em esferas de influência e competição por matérias-primas e capacidade industrial.
Estudos recentes indicam que a China ultrapassou os EUA em vários domínios econômicos e tecnológicos, incluindo comércio global, energias limpas e indústria bélica. A concentração chinesa no processamento de terras raras cria vulnerabilidade estratégica para EUA e aliados.
No front regulatório, o presidente da SEC, Paul Atkins, alertou que a tecnologia blockchain é “particularmente eficiente” em ligar transações a indivíduos. Sem cuidado, criptomoedas poderiam virar uma “arquitetura de monitoramento financeiro”, embora Atkins tenha defendido a busca de equilíbrio entre segurança nacional e privacidade.
Relatórios indicam que a SEC dispensou ou pausou cerca de 60% dos casos relacionados a criptomoedas desde janeiro de 2025, com processos de alto perfil contra Ripple e Binance desacelerando. Este movimento tem sido interpretado como redução de fiscalização no período.
Internacionalmente, a FCA do Reino Unido lançou consulta para um regime regulatório cripto abrangente visando entrar em vigor até outubro de 2027.
A América Latina e Caribe devem crescer 2,4% em 2025, com Brasil em 2,5%, mas fraqueza na demanda interna, volatilidade comercial e restrições ao investimento limitam o dinamismo. Para 2026, a projeção cai para 2,3%.
Estes fatores combinam incerteza externa — com EUA e geopolítica — com pressões internas de juros elevados e confiança empresarial abalada, pressionando consumo e investimento em dezembro.
Analistas monitoram atentamente:
O mercado de criptomoedas permanece fortemente correlacionado com dinâmicas macroeconômicas globais, geopolítica e decisões de política monetária. Investidores devem acompanhar de perto estes desenvolvimentos nos próximos dias.
A queda do Bitcoin reflete não apenas dinâmicas internas do mercado cripto, mas também pressões macroeconômicas globais mais amplas. Com juros elevados, incertezas sobre política monetária, tensões comerciais e reconfiguração geopolítica, o ambiente permanece desafiador para ativos de risco como criptomoedas.
A recuperação do Bitcoin dependerá de sinais de alívio nas pressões macroeconômicas, redução de incerteza geopolítica e possível mudança na trajetória de juros globais. Até lá, volatilidade e pressão de venda devem persistir.


